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Dono de pet shop, empresário morto após peeling de fenol pediu para levar cães ao seu velório quando morresse, diz namorado

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Em entrevista ao g1, Marcelo Camargo contou que o desejo de Henrique Chagas foi cumprido. A mãe de seu namorado levou os três cães do empresário. Eles também permitiram que donos de outros cachorros que ele cuidava levassem seus pets ao cemitério.

Dono de pet shop, o empresário morto na última segunda-feira (3) após passar por peeling de fenol numa clínica de estética em São Paulo havia feito um pedido a sua mãe muito tempo antes de perder a vida. Henrique Chagas brincou pedindo que ela prometesse que, quando morresse, ela levasse os três cães dele ao seu velório.

O desejo do empresário foi atendido na quinta-feira (6), três dias após a morte de Henrique. Além disso, dona Edna também avisou os clientes do filho para irem ao cemitério com os cachorros que ele banhava, cortava as unhas e tosava. Todos para se despedirem de “Rick”, como era conhecido.

Henrique foi sepultado em Pirassununga, interior paulista. O empresário foi enterrado sob aplausos e com a presença dos cachorros. Ele tinha 27 anos.

Quem revelou essa vontade de Henrique ao g1 foi o namorado do paciente, o administrador Marcelo Camargo, de 49 anos. O casal namorava havia três anos e se dividia entre Pirassununga e Campinas, onde Marcelo mora.

“A mãe dele falou que, há um tempo atrás, eles conversando, brincando e tal, mas na brincadeira ele falou: ‘Olha, mãe, se um dia eu morrer, você leva meus cachorros para sentir meu cheiro, se despedir de mim, porque só assim eles vão entender que eu não vou voltar'”, conta Marcelo, na sexta-feira (7).

“A gente resolveu abrir para os clientes, para os pets que ele tanto amava… e foi emocionante. Cada cachorro que chegava perto, cada cachorro que cheirava, reconhecia. Os que eram mais atiçados assim com ele, de fazer bagunça, até choravam porque queriam chegar mais perto”, lembra o namorado de Henrique.

Além da homenagem, quem foi se despedir do empresário também pediu “justiça” para que Natalia Becker, dona da clínica que fez o tratamento estético nele, seja responsabilizada criminalmente pela morte.

A Polícia Civil indiciou Natalia por homicídio com dolo eventual, quando se assume o risco de matar. Ela responde ao crime em liberdade.

O 27º Distrito Policial (DP), Campo Belo, que investiga o caso, ainda aguarda o resultado do laudo sobre a causa da morte, mas a principal suspeita é a de que Henrique tenha sido intoxicado pelo produto. A substância é um ácido usado sobre a pele para retirar manchas e rugas, devolvendo a elasticidade. Depois, ele teria sofrido uma asfixia e morrido por causa de uma parada cardíaca. Havia lesões até suas gengivas.

Numa declaração à imprensa, após ser interrogada na delegacia, Natalia disse que a morte de Henrique “acabou” com sua vida. O g1 tenta contato com a defesa da dona da clínica para comentar o assunto.

Marcelo contou ainda que Henrique teve uma reação súbita após se queixar das dores que estava sentindo assim que acabou o procedimento. “Ele apertou meu braço, arregalou o olho e… sufocado, disso ele já foi… e dali não tinha mais nada.”

Namorado filmou procedimento

Foi o namorado quem gravou com o celular o antes, durante e depois do tratamento do peeling de fenol na clínica. As imagens serão entregues à investigação pelos advogados que defendem os interesses da família da vítima.

Gravadas por celular em 3 de junho, foram obtidas pelo g1 e mostram Henrique sendo preparado por uma funcionária do consultório (veja acima). Nelas, a mulher aparece passando um instrumento pontiagudo com uma lâmina no rosto do paciente. Em outras cenas, é possível ver as bochechas do empresário com cortes e sangrando antes da aplicação do fenol.

Marcelo disse que após a funcionária cortar o rosto de Henrique, passou um anestésico tópico, e, em seguida, Natalia continuou os cortes. “É tipo uma lança. Como se fosse uma ponta de agulha, e ela ia rabiscando, ferindo mesmo. Ficou o rosto inteiro bem ferido, bem machucado”, falou.

Apesar dos cortes na face do empresário, Marcelo e o namorado acharam que o procedimento estava seguindo de maneira correta, pois Natalia, segundo o administrador, havia os tranquilizado e dito que aquilo era normal para preparar a pele para o fenol.

“Nós não questionamentos porque achamos que fazia parte do procedimento”, falou Marcelo. Depois ele parou de gravar e foi orientado a ficar do lado de fora da sala onde o procedimento foi feito. Foram dez minutos de cortes no rosto e mais 40 minutos de aplicação do fenol.

Henrique pagou R$ 5 mil pelo tratamento. Marcelo contou que após o procedimento, seu namorado estava sentado na maca: “Conversei com ele bastante. Ele só falou que sentiu muita dor, muita queimação, muita ardência, bem forte mesmo. Mas que estava suportando por ser o sonho dele.” O empresário se queixava de marcas de acne que adquiriu na adolescência.

Segundo os advogados que defendem os interesses do namorado de Henrique e da mãe do paciente morto, o procedimento de cortar o rosto para aplicar o produto não é adotado pelos especialistas que eles consultaram.

“Conversando com profissional da área, já verificamos que aqueles cortes no rosto não poderiam ter sido feitos para se aplicar um ácido fortíssimo como é o fenol”, falou a advogada Elaine de Cassia Colicigno.
Procurada pela TV Globo, a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que não seria possível analisar o procedimento feito pela clínica de Natalia somente se baseando nos vídeos e nas fotos divulgados pela reportagem.

Tanto o Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) quanto a Associação Nacional dos Esteticistas e Cosmetólogos (Anesco) informaram que procedimentos com o uso do fenol devem ser realizados exclusivamente por médicos ou profissionais devidamente capacitados e regulamentados. A avaliação deles é de que o procedimento é invasivo e os medicamentos usados podem causar taquicardia.

Clínica de estética foi fechada

Apesar de se apresentar como esteticista, Natália não tinha graduação em estética.

A Prefeitura de São Paulo fechou a Studio Natalia Becker por tempo indeterminado após a morte de Henrique e as denúncias de que a clínica realizada procedimentos estéticos sem autorização.

Natalia Becker é o nome fantasia de Natalia Fabiana de Freitas Antonio. Ela tem 29 anos e não é médica. Também não é especialista em dermatologia. A polícia também investiga se ela chegou a usar algum registro profissional falso ou de outra pessoa para se passar por médica em algum momento.

Natalia diz ainda possuir três clínicas com o nome Studio Natalia Becker: em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Goiânia. Tem mais de 230 mil seguidores no Instagram.

Advogados citam asfixia

“Nossa convicção é que ele foi asfixiado de forma tóxica pelo uso do fenol. Esse produto, ao ser aplicado, veio a correr toda a via respiratória do Henrique. Além do cheiro, foi o fato, provavelmente, de como ela aplicou antes: riscou toda a face dele e passou esse produto”, falou o advogado Adrian Piranga. “Tivemos essa informação através de uma fonte do IML [Instituto Médico Legal]. Porém, nós precisamos aguardar o laudo.”

O fenol é um composto orgânico ácido que provoca uma reação inflamatória na pele. A inflamação causa descamação da superfície do tecido. O objetivo é reduzir manchas, rugas e cicatrizes, devolvendo a elasticidade da face.

Mas não foi isso o que ocorreu. Por esse motivo, a advogada Elaine falou que o escritório de advocacia que representa a mãe de Henrique irá entrar na Justiça com uma ação contra Natalia cobrando dela o pagamento de indenização por dano moral.

“A mãe do Henrique é uma pessoa extremamente simples, que dependia dele financeiramente, e a Natalia, ao fazer esse procedimento, assumiu o risco do resultado. Ela tem uma responsabilidade civil em cima disso”, falou a advogada.

 

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